Em 1964, The Animals gravou “House of the Rising Sun”, uma balada sobre uma casa de perdição em Nova Orleans. Seis décadas depois, sua mensagem ecoa com uma relevância assustadora, não mais nas ruas empoeiradas do Sul, mas nas telas brilhantes de nossos dispositivos.
Um amigo meu viveu essa história recentemente. Homem de família exemplar, em poucos meses viu sua vida desmoronar. O vício? Não álcool ou drogas, mas jogos online – a “Casa do Sol Nascente” moderna que, como a original, promete prazer e entrega ruína.

“Oh mãe, conte aos seus filhos”, alertava a canção. Hoje, esse aviso é mais urgente que nunca. A melodia viciante não vem mais de um piano em bar esfumaçado, mas de notificações incessantes e recompensas virtuais, cuidadosamente projetadas para nos manter conectados.
O “sol nascente” agora é o brilho da tela, iluminando rostos em quartos escuros. Jogadores perdem não apenas dinheiro, mas tempo – a moeda mais preciosa da vida. Relacionamentos desmoronam não pelo toque de estranhos, mas pela ausência de toque entre entes queridos.
Como meu amigo, muitos vivem em mundos virtuais, acumulando troféus digitais enquanto suas realidades se despedaçam. O jogo patológico, reconhecido pela Classificação Internacional de Doenças, não precisa mais de fichas ou cartas – apenas de wi-fi e um avatar.
Há 60 anos, a “casa” era um lugar físico. Hoje, ela mora em cada bolso, cada mesa de escritório, cada quarto de criança. A promessa de escape, de uma vida mais emocionante, de conexões sem complicações – tudo isso ecoa o apelo do antigo bordel.
Mas há esperança. Assim como alguns escaparam da Casa do Sol Nascente original, é possível quebrar as correntes digitais. Reconhecer o problema, buscar ajuda e reconstruir conexões reais são os primeiros os para a redenção.
Seis décadas se aram, e a mensagem de The Animals permanece viva: cuidado com os vícios que prometem o céu, mas entregam o inferno. Seja em Nova Orleans ou no mundo online, a vigilância é necessária. O sol sempre nasce, mas cabe a nós escolher sob qual luz viveremos nossas vidas.