Por Matheus Vieira da Cunha | Você já se perguntou por que é tão difícil desacelerar em um mundo que exige produtividade constante? Essa sensação pode ser um reflexo do impacto do estresse na saúde mental, algo que afeta a todos nós. O ritmo acelerado da vida moderna, somado às múltiplas demandas sociais e profissionais, tem gerado uma sobrecarga emocional que, quando não tratada, pode desencadear sérios problemas de saúde, principalmente na saúde mental.

O estresse é, em sua essência, uma resposta natural do corpo a situações desafiadoras. Ele prepara o organismo para reagir a ameaças ou mudanças, mas quando se torna crônico, a a gerar impactos negativos na saúde física e mental. Estudos demonstram que o estresse prolongado está intimamente relacionado ao desenvolvimento de transtornos como ansiedade, depressão e síndrome de burnout. Estudos mostram que o estresse contínuo pode alterar a neuroquímica do cérebro, prejudicando a regulação emocional e o processamento de informações, o que dificulta a capacidade de enfrentar adversidades.
No campo da psicologia e da psicanálise, compreendemos que o estresse não é apenas uma resposta externa às pressões diárias, mas também uma manifestação de conflitos internos. Freud (1900) já destacava que tensões inconscientes podem gerar sintomas emocionais e físicos, enquanto Lacan (1964) aprofundou essa ideia ao relacionar o sofrimento humano às exigências do Outro (as expectativas da sociedade). O espaço psicanalítico funciona como uma ferramenta para explorar e compreender esses conflitos, ajudando o sujeito a encontrar alívio e equilíbrio.
Desacelerar não é sinônimo de fracasso; é um ato de autocuidado e resistência contra a lógica produtivista que muitas vezes negligencia nossas necessidades emocionais. Jung já dizia: “Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.” Ao cultivarmos essa introspecção, encontramos meios de viver de forma mais saudável e consciente.
Investir em momentos de pausa e reflexão é essencial.
Pequenas práticas diárias podem fazer uma grande diferença, como reservar cinco minutos para respirar profundamente e se reconectar com o presente, escrever um diário emocional para identificar sentimentos recorrentes ou até mesmo caminhar ao ar livre sem dispositivos eletrônicos. Além disso, estabelecer limites para o uso de redes sociais e adotar uma rotina de sono consistente também são formas eficazes de reduzir o impacto do estresse. A busca por apoio profissional, como psicoterapia ou análise, é outro o importante, pois oferece um espaço seguro para elaborar conflitos internos e redescobrir o equilíbrio.

Desacelerar, afinal, é um ato de coragem frente as exigências da produtividade, que nos permite reencontrar o sentido, acalmar o coração em meio ao caos e viver de forma mais plena e consciente.
Matheus Vieira da Cunha | Psicólogo (CRP 16/7659) e psicanalista. Graduado em Psicologia (2020) pelo Centro-Universitário São Pedro. É Mestre em Psicologia (2023) pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGP/UFES). Desenvolve atividades de Estudo, Pesquisa e Extensão sobre Teoria e Clínica Psicanalítica, Clínica Psicossomática, Saúde Mental e Autocuidado. É Sócio-Proprietário da Laços Terapias, Clínica Médica e Psicológica.