Por Fernando Otávio | No universo náutico, a expressão “Bons ventos os tragam” é um desejo de boa sorte e uma esperança de retorno seguro para os marinheiros. Assim, desejo que os bons veranistas também retornem às nossas praias, com a mesma sorte e carinho que sempre dedicaram a Guarapari. O dicionário Michaelis define “veranista” como “aquele que costumava veranear, ar o verão de férias, geralmente perto do mar”. Foi essa relação de veraneio que se reconstruiu o turismo em nossa cidade, perdido depois dos áureos tempos dos cassinos. Nas décadas de 80 a 2000, os veranistas, que se hospedaram por no mínimo 15 dias e em muitos casos ando todo o verão, realizaram uma conexão especial com Guarapari.
As famílias voltavam ano após ano, criando laços profundos com a cidade e estabelecendo uma rotina de verão que envolvia nossos comércios, bares, restaurantes e hotéis. Buscavam não apenas nossas belas praias, mas tranquilidade, segurança e conforto para suas férias. Esses veranistas trouxeram um fluxo estável e crescente de turistas, o que estimulou o desenvolvimento de novos hotéis, construindo um comércio mais forte e uma gastronomia vibrante, trazendo os shows , atrações ( que saudade do Festival Hollywood de Velas). Foi esse vínculo que fez a nossa cidade crescer e prosperar e ser a mais importante do turismo do ES, e ainda é..
Eu convivi e devo muito a esses veranistas. Não foram poucas as vezes que, durante a minha infância, deixei minha cama para que uma família pudesse ficar 30 dias em nossa casa. Nos fundos de nosso terreno ficava um barraco, simples, que abrigava parte das nossas memórias de verão. Foi por causa desses veranistas que tive o a uma excelente educação, qualidade de vida e pude construir uma carreira e hoje atuo como defensores da hotelaria e de um turismo de qualidade em Guarapari.
Entretanto, o cenário mudou. Hoje, os veranistas são uma minoria que ainda busca qualidade no turismo em nossa cidade. Muitos antes veraneavam aqui aram a ser nossos vizinhos, se tornando cidadãos e, em muitos casos, empreendedores e investidores. Por outro lado, muitos foram, buscando novos destinos devido ao excesso de ocupação e à perda da essência daquele turismo familiar.
Os veranistas de outrora não se amontoavam em quartos destinados a duas pessoas ou em apartamentos projetados para seis, que agora são ocupados por 10, 12 ou até 15 pessoas. Eles vinham por mais tempo, criavam uma comunidade de veraneio, formavam amizades e reforçavam o tecido social da cidade. Diferentemente dos turistas que vemos hoje, que ficam no máximo cinco dias e muitas vezes deixam apenas rastros de um consumo rápido e impessoal (no próximo feriado outra praia a explorar), os veranistas valorizavam a cidade, pois sabiam que retornariam ano após ano.
Ainda há tempo para reconquistar esses veranistas e atrair turistas que não buscam apenas belezas naturais, mas também uma cidade que oferece qualidade de vida, mesmo na alta temporada, não só para os turistas mas para seus moradores. Precisamos promover uma Guarapari que tenha valor em suas experiências, e não apenas preços. Esse é o desafio que temos pela frente: cuidar para que nossos encantos continuem presentes e para que o turismo seja uma via de crescimento sustentável, que valorize o que temos de melhor.
Bons Veranistas Retornem.
