
Rogo ao leitor paciência. Minha confissão pode parecer um exagero, mas em mim é tão reticente quanto desconfiada. Deus bem sabe, a faço por medo de perder a credulidade. Não ouvir a minha própria voz neste momento é denunciar-me por complacência a tudo que me fere. Caso, querido leitor, no fim, queira que minha penitência seja proporcional ao desespero e pessimismo com que afago as palavras, perdoou-lhe antecipadamente – cumpri-la-ei com devotada quietude e zelo.
CONFESSO que sonho dormindo, acordado ou cochilando e junto-me aos sonhos de todo mundo. Ao final, somados suplicam a PAZ, mas como acreditar que isso seja possível se a cada milésimo de segundo uma arma é fabricada? Agora mesmo, a Rússia acaba de construir uma super bomba atômica (com toda a grandiosidade do “SUPER”), não por ironia se chama SATÃ 2, capaz de destruir um estado inteiro do tamanho do Texas (USA) a 11.000 km de distância. Os otimistas dirão: “Não se aflija, ninguém vai ter a coragem de apertar o botão vermelho primeiro”. Ora meus senhores… estão esquecendo que vivemos os momentos mais críticos da incerteza? Não foi todo este otimismo que previu a eleição de Hilary Clinton? Não foi todo este otimismo que previu que um Partido dos Trabalhadores pudesse enfim resolver as mazelas do Brasil?
CONFESSO que o meu prazer diário em ler jornais logo nas primeiras horas do dia tem sido drasticamente afetado – Eu já não consigo chegar às páginas finais, por lá estão os infortúnios da miséria, intolerância, mulheres violentadas, assassinadas e aprisionadas pelo machismo dos “senhores de engenho”.
Outro dia quando me arrisquei na vã esperança e me encorajei a seguir a leitura, encontrei 03 mulheres completamente desfiguradas na mesma página – brutalmente assassinadas, pelo motivo torpe de não quererem mais continuar seus relacionamentos. Uma delas levou 48 facadas e o assassino só parou porque o filho da vítima, de 07 anos, pediu desesperadamente chorando: “Por favor, não mate mais a minha mãe”. Senti tanta dor exalando dessas palavras inocentes que até hoje minha mente não consegue apagar um parágrafo da reportagem cheia de sangue e perplexa por falta de justiça. É tanta aflição, lama e opressão com os menos favorecidos que já estou com medo que ocupe todo o jornal. Qual espaço vai restar para as alegrias, ainda que seja puro fingimento da realidade? O que será deste hábito secular que herdei do meu finado pai – ser um leitor compulsivo?
CONFESSO que a GENTILEZA, herança da minha vó, está cada vez mais difícil de praticar. A falta de respeito e o descaramento das pessoas estão fora da órbita aceitável. Tem horas que dá vontade de partir para a agressão ou usar o mesmo modo de agir daqueles que vão para rua protestar contra a corrupção, mas sequer respeitam uma fila de padaria – mas como me sujeitar a estes disparates? Por natureza eu não consigo ser desrespeitoso.
CONFESSO que mesmo sendo homem de FÉ, ela me falta quando vejo tanta exploração em nome de DEUS. Igrejas e farmácias já dividem o mesmo conselho – ambas se tripudiam pela primazia do mundo físico… porquanto deveriam ser completamente antagônicas. As biroscas santas vendem até oração para hemorroida… isso mesmo, não é piada, tampouco sarcasmo – VENDEM – evidentemente, claro que a fé pode curar todas as doenças, mas daí instá-la ao posto máximo de coisas corriqueiras é, na melhor das hipóteses, uma aberração. A Fé é o remédio da alma! Porém quem disse que os pseudos homens santos estão ligando para este fato… eles estão preocupados mais com a “caixinha” – Deus que se lasque.
CONFESSO que o meu MEDO maior é perder a esperança que vive camuflada entre o amanhã e depois…e depois…e depois… uma angustiante espera que vem atravessando gerações – O de um mundo melhor! Talvez por isso ainda me force a levantar todas as manhãs imaginando que qualquer dia desses Jesus, Buda, Maomé, Mahavira e todos os Santos encorajem seus seguidores a perceberem que na verdade são apenas “UM”.
Quando de fato, meu caro leitor, deixaremos a retórica de lado e viveremos conforme o maior mandamento do AMOR? Amarmos uns aos outros não é tão difícil quanto parece – Se assim for, QUE SEJA ESTA A MINHA PENITÊNCIA – NASCI PARA AMAR!