Tempos atrás, o cidadão se gabava: “Minha rua é asfaltada!”. Hoje, mais modesto e realista, declara com resignação: “Minha rua tem quebra-cabeça de asfalto”. É a evolução natural do vocabulário urbano, adaptando-se à nossa realidade remendada.
Os políticos, essas criaturas fascinantes, têm uma aversão peculiar a obras subterrâneas. Afinal, como fotografar um cano? Como inaugurar uma tubulação? Não, não! O negócio é obra que apareça, mesmo que seja mais um remendo sobre outros dez anteriores. É a arqueologia moderna: cada camada conta um mandato diferente.

Em minhas caminhadas contemplativas pela cidade, observo essa geografia única que se forma. Aqui, uma sequência interminável de remendos que se encontram como continentes à deriva. Ali, depressões no asfalto tão profundas que, quando chove, formam lagos dignos de serem batizados. Mais adiante, aqueles remendos característicos das empresas de saneamento, que chamamos carinhosamente de “costelas de vaca”.
O caso da Prainha de Muquiçaba é particularmente intrigante. Uma obra que se arrastou por tanto tempo quanto uma novela mexicana, mas que, sem a devida manutenção, deteriorou-se mais rápido que um sorvete no verão guarapariense. Porque não adianta fazer bonito se não houver um plano de conservação.
E a ciclovia da Praia do Morro? Trocar um piso bom por outro que já está em estado sofrível – há uma lógica oculta que só os iniciados conseguem compreender.
Mas quem sou eu para questionar essa dança urbana? Talvez exista uma sabedoria superior por trás dessa política do remendo eterno. Talvez seja uma metáfora profunda sobre a própria vida: tudo é transitório, especialmente o asfalto sem manutenção.
E assim seguimos, navegando por esse mar de ondulações asfálticas, onde cada buraco tapado é uma história e cada remendo um capítulo novo. A cada dia que a, nossa cidade vai se transformando numa imensa colcha de retalhos. Porque, como dizem os antigos: não há nada mais permanente que um remendo temporário, nem nada mais temporário que uma obra sem planejamento e manutenção.